sexta-feira, 3 de maio de 2019

PEDROCA, meu pai



                                                                              
PEDRO LUDGERO DE MENDONÇA LIMA (1888?- 31/12/1946), filho de João Baptista de Mendonça e Tereza Correia de Mendonça, nasceu em Maranguape. Fugindo da seca que  assolava o Ceará, foi para o  Amazonas em 17/2/1894, com 8 anos de idade, em companhia de seu irmão mais velho, Vicente Geraldo de Mendonça Lima,  que, embora jovem de apenas 16 anos, agia como uma espécie de tutor de meu pai e de seus irmãos Zeca,   que morreu cedo,   Ana (tia Naninha) e tia Sinhá. Para poderem viajar,  contaram com o apoio do padre Pedro Abreu Pereira. Depois de Itacoatiara- AM,  residiram em São José do Amatari (1901/1902), Vila de Silves, Boca dos Autazes, retornando finalmente para a Velha Serpa (*).   Não sei onde ocorreu o seu casamento com minha mãe Maria Vital de Lima, mas sei, com certeza, que já moravam  em Itacoatiara, quando do meu nascimento,  em 23/06/1934.   De seu primeiro matrimônio, tiveram  11 filhos, Gerson, Wilson, Jurandir,  Otoniel, Pedro, Edson, Antonio (Quitó), João Batista, Tereza , Ermelinda e eu. Do segundo,  com Da. Eloya Fonseca de Mendonça,  mais 5 filhos, Renato, Adilson, Joaquina, Raimundo e Fátima.     Contaram-me que meu pai trabalhou na firma de Abdon Raman, na época grande comerciante ribeirinho, estabelecido entre as cidades de  Itacoatiara e Manaus e   que até aprendeu a  falar e a escrever razoavelmente o  turco.  Trabalhou em seguida na Prefeitura, porém, apesar de sua reconhecida competência, o seu perfil de pessoa austera, reservada, honesta e séria não agradou à politicagem de   Manuel Severiano Nunes, que o demitiu durante o curto período em que foi nomeado Prefeito de Itacoatiara.  Desempregado, necessitando de recursos para manter seus 10 filhos, não esmoreceu e pegou imediatamente um trabalho duro, o de carregar nas costas tábuas de madeira, na Serraria do industrial Antonio de Araújo Costa.    Nunca se queixou da dor dos calos que brotavam em suas mãos.   Passados alguns dias, o Sr. Raimundo Perales, gerente da empresa,  pai da minha atual e querida esposa Lucia Perales Rabello, ao fazer vistoria de rotina na Serraria, percebeu a fragilidade física daquele operário para o trabalho que executava.  Resolveu entrevista-lo e o promoveu a apontador, encarregado de registrar o   estoque e a movimentação das madeiras.  Não tardou nova avaliação.  Percebido seu maior potencial, foi   transferido para  o escritório da firma, onde,  em pouco tempo,  galgou o posto de guarda-livros (hoje Contador), cargo que exerceu até  afastar-se e vir a falecer de tuberculose, doença que, muito antes da descoberta da penicilina e de outros medicamentos, era  praticamente fatal.   Pouco me relacionei com meu  pai.  Chamava-o de tio, parentesco correto se seu sobrinho, Floro Rebelo de Mendonça, fosse realmente meu pai.    Tudo isso ocorreu  porque era mantido em segredo que eu fosse adotado.    Muitas vezes o vi passar em frente à casa em que eu morava, trajeto que fazia diariamente  para o trabalho  pois morava ao final da mesma rua.    Em criança,  visitava muito meus “primos” mas raramente o encontrava por coincidir com seu horário de trabalho.     Certo dia, aos 12 anos de idade,  jogava bola em frente à minha casa e, ao avistá-lo, corri para pedir-lhe, como de hábito a  “benção titio”, benção que nunca negara “ao sobrinho” mas, pela primeira vez,  o vi transtornado, gritando : “Me respeite, você já tem idade de saber que sou seu pai e não seu tio !   Saí correndo desesperadamente, entrei em casa aos prantos, mas minha mãe  Nunila Barros de Mendonça, docemente me convenceu  que havia um engano e que ela e Floro Rebelo de Mendonça é que  eram os meus verdadeiros pais, que muito me amavam, e que  iriam conversar com “meu tio” para que esse fato não se repetisse.    Em outro momento espero lhes contar o trauma que sofri, quando me foi confirmada a adoção.    Restou-me pouco tempo  para  curtir o meu pai que, segundo a minha irmã Fátima,  teria pronunciado,  lucidamente, naquele 31 de dezembro,  suas últimas palavras: “o ano está findando e eu estou indo com ele”...


 (*) Fontes: Livro de Biografia de Vicente Geraldo de Mendonça Lima, de autoria de meu saudoso primo Antonildes Bezerra de Mendonça, e em conversa com seu irmão, o  meu querido primo João Rebelo de Mendonça.

  

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