PEDRO LUDGERO
DE MENDONÇA LIMA (1888?- 31/12/1946), filho de João Baptista de Mendonça e
Tereza Correia de Mendonça, nasceu em Maranguape. Fugindo da seca que assolava o Ceará, foi para o Amazonas em 17/2/1894, com 8 anos de idade, em
companhia de seu irmão mais velho, Vicente Geraldo de Mendonça Lima, que, embora jovem de apenas 16 anos, agia
como uma espécie de tutor de meu pai e de seus irmãos Zeca, que morreu cedo, Ana (tia Naninha) e tia Sinhá. Para poderem
viajar, contaram com o apoio do padre
Pedro Abreu Pereira. Depois de Itacoatiara- AM,
residiram em São José do Amatari (1901/1902), Vila de Silves, Boca dos
Autazes, retornando finalmente para a Velha Serpa (*). Não
sei onde ocorreu o seu casamento com minha mãe Maria Vital de Lima, mas sei,
com certeza, que já moravam em
Itacoatiara, quando do meu nascimento, em
23/06/1934. De seu primeiro matrimônio, tiveram 11 filhos, Gerson, Wilson, Jurandir, Otoniel, Pedro, Edson, Antonio (Quitó), João
Batista, Tereza , Ermelinda e eu. Do segundo, com Da. Eloya Fonseca de Mendonça, mais 5 filhos, Renato, Adilson, Joaquina,
Raimundo e Fátima. Contaram-me que meu pai trabalhou na firma de
Abdon Raman, na época grande comerciante ribeirinho, estabelecido entre as
cidades de Itacoatiara e Manaus e que até aprendeu a falar e a escrever razoavelmente o turco.
Trabalhou em seguida na Prefeitura, porém, apesar de sua reconhecida
competência, o seu perfil de pessoa austera, reservada, honesta e séria não
agradou à politicagem de Manuel Severiano Nunes, que o demitiu durante
o curto período em que foi nomeado Prefeito de Itacoatiara. Desempregado, necessitando de recursos para
manter seus 10 filhos, não esmoreceu e pegou imediatamente um trabalho duro, o
de carregar nas costas tábuas de madeira, na Serraria do industrial Antonio de
Araújo Costa. Nunca se queixou da dor dos calos que brotavam
em suas mãos. Passados alguns dias, o
Sr. Raimundo Perales, gerente da empresa, pai da minha atual e querida esposa Lucia
Perales Rabello, ao fazer vistoria de rotina na Serraria, percebeu a fragilidade
física daquele operário para o trabalho que executava. Resolveu entrevista-lo e o promoveu a apontador,
encarregado de registrar o estoque e a movimentação das madeiras. Não tardou nova avaliação. Percebido seu maior potencial, foi transferido
para o escritório da firma, onde, em pouco tempo, galgou o posto de guarda-livros (hoje Contador),
cargo que exerceu até afastar-se e vir a
falecer de tuberculose, doença que, muito antes da descoberta da penicilina e
de outros medicamentos, era praticamente
fatal. Pouco me relacionei com meu pai.
Chamava-o de tio, parentesco correto se seu sobrinho, Floro Rebelo de
Mendonça, fosse realmente meu pai. Tudo isso ocorreu porque era mantido em segredo que eu fosse
adotado. Muitas vezes o vi passar em
frente à casa em que eu morava, trajeto que fazia diariamente para o trabalho pois morava ao final da mesma rua. Em criança, visitava muito meus “primos” mas raramente o
encontrava por coincidir com seu horário de trabalho. Certo
dia, aos 12 anos de idade, jogava bola
em frente à minha casa e, ao avistá-lo, corri para pedir-lhe, como de hábito a “benção titio”, benção que nunca negara “ao
sobrinho” mas, pela primeira vez, o vi
transtornado, gritando : “Me respeite,
você já tem idade de saber que sou seu pai e não seu tio ! Saí correndo desesperadamente, entrei em
casa aos prantos, mas minha mãe Nunila
Barros de Mendonça, docemente me convenceu que havia um engano e que ela e Floro Rebelo de
Mendonça é que eram os meus verdadeiros
pais, que muito me amavam, e que iriam
conversar com “meu tio” para que esse fato não se repetisse. Em
outro momento espero lhes contar o trauma que sofri, quando me foi confirmada a
adoção. Restou-me pouco tempo para curtir o meu pai que, segundo a minha irmã
Fátima, teria pronunciado, lucidamente, naquele 31 de dezembro, suas últimas palavras: “o ano está findando e
eu estou indo com ele”...
(*) Fontes: Livro de Biografia de Vicente
Geraldo de Mendonça Lima, de autoria de meu saudoso primo Antonildes Bezerra de
Mendonça, e em conversa com seu irmão, o meu querido primo João Rebelo de Mendonça.
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