Adeus https://www.letras.mus.br/gilberto-alves/adeus/
Adeus, tu vais partir
Deixando a noite em teu lugar,
E a minha voz vai colorir
O nosso adeus crepuscular.
Deixando a noite em teu lugar,
E a minha voz vai colorir
O nosso adeus crepuscular.
Um lenço branco
acenando
Querendo a dor sufocar.
Um sonho bom naufragando
Na branca espuma do mar.
Querendo a dor sufocar.
Um sonho bom naufragando
Na branca espuma do mar.
E eu te direi num queixume
Que a felicidade
É sempre um vago perfume
No vesperal da saudade.
Que a felicidade
É sempre um vago perfume
No vesperal da saudade.
Esta música me trás uma bela recordação. Nunila,
minha mãe adotiva, levantou cedo dizendo
que não mais iria ao passeio na fazenda, para comemorar o seu aniversário. Chorava muito e me disse, talvez
dissimulando, que era saudade de sua
filha, Jacyra, falecida havia 6 anos.
Fiquei preocupado com a tristeza de minha mãe e ao mesmo tempo pensando
no dia maravilhoso que eu já projetava em minha mente. Passeio a cavalo, banho de rio, frutas e
guloseimas à vontade, espaço imenso onde se brincava dando comida e espantando
os pássaros. Por fim, Floro, meu pai, possivelmente causador da
contrariedade dela, se desmanchava em atenção e, com ajuda de minhas primas e
tias convidadas, conseguiu que minha mãe não desistisse do passeio, também, creio eu, que ela não quis estragar a viagem programada. Meu pai mandou buscar a charrete, que chamávamos na minha cidade, de “ carro de
luxo “, para levar as senhoras. Os demais iriam a cavalo, inclusive eu, na garupa do belo exemplar que era conduzido pelo Washington, filho do
caseiro. Acampamos em um terreno,
próximo da casa da fazenda. Não tive tempo ou interesse em saber quem cozinhava
o que. Sentia o cheiro convidativo de
comida saborosa, e corria com outras
crianças, explorando o espaço com brincadeiras repetidas de outros passeios ou
inventadas na hora. Notei que, durante o dia, minha mãe, de vez em quando
levava o lenço sobre os olhos,
disfarçando a tristeza. Mas, voltando ao assunto da música, não sei por que ela ficou gravada em minha memória até hoje, nos meus 83 anos de idade, e que repousa agradavelmente em meus sentimentos. Teria sido a imagem que eu tinha, dos lindos
momentos da partida dos navios, onde os lenços balançavam junto com as lágrimas
dos que se ausentavam, enquanto, da terra, os movimentos se repetiam nos que
ficavam? Lembro como os dois ou três apitos dos navios
representavam sentimentos opostos, um soar grave de tristeza quando o navio se
afastava lentamente na despedida e, com o mesmo cenário, esses apitos soavam
exuberantes na alegria da chegada.
Ainda me pergunto, teria eu associado
à música, os momentos em que
a alegria sofria lapsos de tristeza que eu via, nesse dia, no semblante de minha mãe? Até hoje, quando vejo a beleza do mar, com
ondas que se quebram em brancas espumas, essa música me aflora o pensamento, como se fosse o tema musical de
um belo filme, reprisado com final feliz. Curiosamente, por ser uma música
romântica, é de se estranhar que uma criança de 8 anos de idade tenha se
sensibilizado tanto por ela, a ponto de decorar letra e música, esta pouco divulgada em minha pequena cidade,
Itacoatiara, no Amazonas, menos no nosso pic-nic, pois tocara repetidamente de
dez da manhã até o entardecer. Resta-me finalmente, agradecer por
essa repetição, a quem esqueceu
em casa todos os demais discos.