JOÃO BATISTA DE MENDONÇA (04.09.1928 / 03.04.1957 ) – Em Itacoatiara, AMAZONAS, ao terminar o curso primário, em
geral aos 12 anos de idade , poucas
crianças conseguiam continuar os estudos na capital. Graças ao apoio do Gerson, irmão que morava em
Manaus, o João concorreu e foi aprovado no difícil exame de admissão para o
excelente colégio público, o Ginásio Amazonense. Lembro, em criança, que nas férias do meio e
fim de ano, ele chegava da capital com muitas novidades, dentre tantas, o jogo
de botão. O time dele era o Flamengo, os
botões feitos de jarina, semente de
palmeira amazônica que, por ser branca e
muito resistente, chegaram a chamar de mármore vegetal. O resto da garotada formava seus times com botões de roupa, de madeira ou de caroço de tucumã. Ele e o Jorge (*), que defendia o Fluminense,
levavam a sério os campeonatos, com
tabelas, campos demarcados no chão das salas, juízes e até locutores. A mim deram o São Cristóvão, depois, por uma
desistência, o João me fez Vascaíno, time pelo qual torço até hoje. Para terem
ideia de como o João era espirituoso, alegre e gozador, certa vez o Wilson, um
dos irmãos que o ajudavam nos estudos, comentou sorrindo – João, tuas cartas
não me trazem notícias, só pedem dinheiro. Na carta seguinte, ele fez duas páginas só de
notícias, não pediu dinheiro, mas todas
as letras “S” foram trocadas um “$”!.
Começou emancipar-se trabalhando no IBGE quando também escrevia, com
inteligência e humor, uma coluna intitulada Zé Ouvinte, muito
lida no jornal A GAZETA. Sempre gostou
de futebol. Certo dia, assistíamos a um jogo dele num pequeno campo nos
arredores de Manaus. Em certo momento, o Pedro, nosso irmão, entrou em campo disposto
dar uma surra no adversário que dera uma forte entrada derrubando perigosamente
o João que, levantando rapidamente, segurou o Pedro dizendo “calma mano, não houve maldade, é do jogo” . João mudou
para Belo Horizonte em 1950, para tratar
de tuberculose que atingiu muitos de meus irmãos. Em setembro de 1956, na minha primeira viagem
ao Rio, fui visita-los, viajando de trem Vera Cruz e ele foi me receber na
estação. Logo lhe pedi que me indicasse um hotel. Com largo e peculiar sorriso
me respondeu - “ teu hotel é lá em casa e tu vais dormir no chão!”. Dessa estada, restam-me lembranças de momentos maravilhosos. Maria Thereza, gestante de muitos meses, mostrava-se tranquila apesar de ter a casa cheia, pois hospedavam também o Gerson e família. João, fã da rainha do rádio daquele ano, me levou a comprar um compacto de Clara Nunes, que despontava cantando Arriverdeci Roma. Depois, com Gerson e família, fomos de avião a Campanha do Sul, onde morava a mana Tereza e seu esposo Hélio Mallet. Lá encontramos, também em visita, a mana Ermelinda e o cunhado Gerardo. O casal anfitrião ficou em casa descansando. Agora, vejam a bela história (**) a seguir: Como estudante de enfermagem na Faculdade Hermantina Beralda, de Juiz de Fora, Maria Thereza dera inúmeros plantões na Santa Casa de Misericórdia da mesma cidade. Após formatura, foi designada para trabalhar em Juazeiro, na Bahia, onde foi surpreendida com uma doença pulmonar, certamente adquirida nas frias noites de seus plantões. Para tratamento de saúde fora deslocada para a sede do SESP, no Rio de Janeiro e, daí, com rápida recuperação, foi encaminhada a Belo Horizonte para, após repouso em quarentena, retornar ao serviço. Para complementar uma documentação, precisou ir ao Laboratório do IPASE de BH. Justo nessa mesma manhã de março de 1953, no mesmo horário em que aguardava atendimento, um jovem estranho, de boa aparência, atencioso, simpático e alegre começou a conversar com ela dizendo que estava alí pela primeira vez para realizar um exame. O mundo conspira! Mineira discreta e cautelosa - dizem que mineiro é desconfiado – em princípio ela o achou muito apresentado mas, aos poucos o João lhe foi ganhando a confiança para novos encontros que resultaram em namoro e, em exatos 18 meses, no dia 29 de setembro de 1954, ela passou a chamar-se Maria Thereza Gomes de Mendonça, em casamento realizado na cidade de Resende Costa, terra natal da noiva, residência de sua tradicional e numerosa família. Bastante incentivado pelo Sr. Prudêncio Gomes, pai de Maria Thereza, o João decidiu continuar os estudos, interrompido em Manaus, reiniciando na 3ª. Série de Direito. Nessa época de estudante, ocorreu um fato interessante. Numa de suas viagens a Rezende Costa, foi convidado a participar improvisadamente como advogado de defesa num evento tradicional na cidade, tipo um teatro, em que todo ano era simulado o julgamento de um réu. Ao final, foram bastante aplaudidos pelo público presente. Além dos aplausos, João recebeu muitos elogios pelo seu desempenho, tendo sido realçado como brilhante pelo advogado de acusação, que, naquele ano, em vez de um leigo, atuara o competente e respeitado Promotor de Justiça da cidade. Para concluir os estudos, suas notas finais do 5º ano, lhe garantiam estar entre os Bacharelandos em Direito, porém, sua ausência na formatura, mereceu emocionantes homenagens que as cartas convites dirigidas a Maria Thereza, resumidas a seguir, falam por si só:
me respondeu - “ teu hotel é lá em casa e tu vais dormir no chão!”. Dessa estada, restam-me lembranças de momentos maravilhosos. Maria Thereza, gestante de muitos meses, mostrava-se tranquila apesar de ter a casa cheia, pois hospedavam também o Gerson e família. João, fã da rainha do rádio daquele ano, me levou a comprar um compacto de Clara Nunes, que despontava cantando Arriverdeci Roma. Depois, com Gerson e família, fomos de avião a Campanha do Sul, onde morava a mana Tereza e seu esposo Hélio Mallet. Lá encontramos, também em visita, a mana Ermelinda e o cunhado Gerardo. O casal anfitrião ficou em casa descansando. Agora, vejam a bela história (**) a seguir: Como estudante de enfermagem na Faculdade Hermantina Beralda, de Juiz de Fora, Maria Thereza dera inúmeros plantões na Santa Casa de Misericórdia da mesma cidade. Após formatura, foi designada para trabalhar em Juazeiro, na Bahia, onde foi surpreendida com uma doença pulmonar, certamente adquirida nas frias noites de seus plantões. Para tratamento de saúde fora deslocada para a sede do SESP, no Rio de Janeiro e, daí, com rápida recuperação, foi encaminhada a Belo Horizonte para, após repouso em quarentena, retornar ao serviço. Para complementar uma documentação, precisou ir ao Laboratório do IPASE de BH. Justo nessa mesma manhã de março de 1953, no mesmo horário em que aguardava atendimento, um jovem estranho, de boa aparência, atencioso, simpático e alegre começou a conversar com ela dizendo que estava alí pela primeira vez para realizar um exame. O mundo conspira! Mineira discreta e cautelosa - dizem que mineiro é desconfiado – em princípio ela o achou muito apresentado mas, aos poucos o João lhe foi ganhando a confiança para novos encontros que resultaram em namoro e, em exatos 18 meses, no dia 29 de setembro de 1954, ela passou a chamar-se Maria Thereza Gomes de Mendonça, em casamento realizado na cidade de Resende Costa, terra natal da noiva, residência de sua tradicional e numerosa família. Bastante incentivado pelo Sr. Prudêncio Gomes, pai de Maria Thereza, o João decidiu continuar os estudos, interrompido em Manaus, reiniciando na 3ª. Série de Direito. Nessa época de estudante, ocorreu um fato interessante. Numa de suas viagens a Rezende Costa, foi convidado a participar improvisadamente como advogado de defesa num evento tradicional na cidade, tipo um teatro, em que todo ano era simulado o julgamento de um réu. Ao final, foram bastante aplaudidos pelo público presente. Além dos aplausos, João recebeu muitos elogios pelo seu desempenho, tendo sido realçado como brilhante pelo advogado de acusação, que, naquele ano, em vez de um leigo, atuara o competente e respeitado Promotor de Justiça da cidade. Para concluir os estudos, suas notas finais do 5º ano, lhe garantiam estar entre os Bacharelandos em Direito, porém, sua ausência na formatura, mereceu emocionantes homenagens que as cartas convites dirigidas a Maria Thereza, resumidas a seguir, falam por si só:
Da Faculdade de Direito de Minas Gerais -
20.11.57 – Constando da programação
oficial da formatura dos bacharelandos, fazemos-lhe um convite para solenidade
em homenagem que prestamos ao saudoso colega, não é mera formalidade, como
poderia parecer, pois que num convívio de pouco tempo soube conquistar a nossa
eterna amizade e a admiração de todos os professores (a) Marcio Bruno Von
Sherling e Adolfo Pereira Filho.
Se considerarmos somente a contagem de tempo
aqui da terra, o João se fez presente por apenas 4 meses e 11 dias na vida de uma linda criança, fruto de muito amor do
casal, o Joãozinho, nascido em 20.11.1956, hoje um belo jovem senhor que serve de orgulho para sua mãe, pelos valores de caráter, bondade e inteligência, com forte lembrança de traços físicos e espirituais de seu pai.
(*) Jorge Bonifácio de
Lima, em 2019 faz 94 anos, está bem, mora em Manaus, é meu irmão por ser filho
de Floro Rebelo de Mendonça, meu pai adotivo.
(**) Agradeço a
colaboração da cunhada Maria Thereza, e do João Batista Filho, que muito me ajudaram com informações que me permitiram prosseguir e enriquecer este texto .