sexta-feira, 3 de maio de 2019

A CASA DE MEU PAI


  


 A partir dos meus 6 a7 anos de idade, comecei a visitar a casa dos meus irmãos, até então chamados de  “primos”.  Era bem grande como se vê na  foto ao lado, tendo à frente o querido mano Jurandir.  Essa casa tinha mais umas duas janelas à esquerda da foto.  Lembro que tinha duas salas contíguas à frente, uma  de jantar e outra de lazer, uma alcova, um salão, espaçosa cozinha e mais uns dois quartos em um sótão, um deles das manas Ermelinda e Tereza.    Eu gostava de frequentar esse grande salão,  dormitório de alguns dos meus irmãos,  onde   eram guardados muitos instrumentos musicais que eu tentava, sem sucesso,  tocar um ou outro.  Do Gerson (violão),  Jurandir (trombone), Edson (piston), Otoniel (clarinete), Antonio, o Quitó (trompa), Pedro (contra-baixo ou tuba),   João Batista  (flautin).   Meus  7 irmãos e mais uns 3 ou 4 outros músicos,  sob a batuta do maestro Fona, pai de um excelente pintor e exímio violinista, o Ubirajara, formavam a orquestra  que se apresentava nas festas cívicas da cidade.  Muitos chamavam de a orquestra dos Mendonças.    Essa casa ficava  a  quatro quarteirões de onde eu morava, era a última da rua Desembargador Meninéia, em Itacoatiara.  Ela se limitava por um lado com  a rua que circundava a grande lagoa do Jauary (hoje inexistente) que,    com o tempo,  teve o centro dela   tomado pelos aningáis e outras pequenas vegetações aquáticas, viveiros de alguns jacarés, cobras, sangue-sugas, peixes pequenos,  inclusive o famoso poraquê,  e muitos pássaros que se divertiam em revoadas, faziam seus ninhos e compunham  belas canções  para deleite dos que amam a  natureza.   As Lavadeiras buscavam as límpidas águas das cacimbas que se formavam naturalmente em vários pontos.  A criançada, com minha presença assídua, jogava bola em campinhos em declive à beira do igarapé.  Nas enchentes do Rio, havia procissões, com música,  muitos fogos e  canoas enfeitadas  que percorriam todo o igarapé que se formava ao redor da vegetação, sendo mais um motivo de alegria para os moradores e visitantes que iam assistir aos festejos de  São Pedro.  Com a enchente do rio,  o quintal de meu pai se tornava um lago escondendo a cerca. Por atingir as sentinas, na época construídas nos quintais,   impurezas eram liberadas,  tornando essas águas  impróprias para o banho, menos para minhas irmãs Tereza,  Ermelinda e eu, sempre convidado a burlarmos a vigilância dos mais velhos.  Talvez contássemos com imunidade ou a proteção divina, ou  certamente as duas.   Hoje essa casa é inexistente mas deixou,  na nossa memória, lembranças inesquecíveis.

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